Zero À Esquerda - Edição Onze
Quem olha a imagem acima pode, facilmente, acreditar que foi tirada de algum campo de combate em Beirute, Tel-Aviv ou outras cidades dominadas por uma guerra civil comandada pelo Hezbollah. Porém, tudo isso aconteceu mais perto do que poderíamos imaginar: Estádio Beira-Rio, Porto Alegre/RS, dia 30 de Julho de 2006.
Finalmente um acontecimento que vinha se anunciando há anos chegou às vias de fato. Todos sabem que esta animosidade estava por acontecer, e vários indícios vinham ocorrendo, como nos dois Gre-Nais da final do Gauchão, onde colorados depredaram o Olímpico e gremistas o Beira-Rio. Porém, a atitude tomada por dirigentes e policiais foi praticamente nula. Reforçar policiamento não resolve, pois os covardes se fortalecem quando em multidões, e tivemos a prova disso quando vários ‘torcedores’ partiram para cima dos policiais, numa cena nunca vista em estádios aqui no Estado.
Depois de todo o problema, como se não bastasse, qual a atitude tomada por dirigentes de Grêmio e Inter? Tão irresponsável ou mais do que a dos vândalos. Uma troca ridícula de acusações, onde um empurrava para o outro a culpa pelo acontecido. O presidente Fernando Carvalho, em um momento muito infeliz, ofendeu de forma geral( toda a generalização é burra! ) a Torcida Gremista, enquanto o presidente em exercício do Grêmio, Túlio Macedo, também de forma irresponsável, acusou o Inter pela colocação de banheiros móveis nos corredores do estádio.
Tão preocupados em culpar o adversário, esqueceram-se de pensar( aliás, andam esquecendo muito este ato ultimamente ) e concluir que ambos, em conjunto com a polícia, eram os culpados por toda essa baderna e destruição. Há anos deveriam ter adotado a torcida única, onde só o time da casa tem torcedor. Uma atitude lamentável, de fato, porém a única solução para evitar uma tragédia ainda maior. Pois, por enquanto, os prejuízos foram apenas materiais.
Em momentos de tensão, como no da foto, cheguei a pensar que estava vendo torcedores ingleses ou alemães, os chamados Hooligans, que não sabem nem para que time torcem, ou melhor, torcem para o time da violência, da covardia em grupo, da agressão pela diversão.
Mas, o que mais me entristeceu foi quando resolvi ler a respeito da tragédia em sites na Internet. Pude constatar a mesma generalização burra feita por Carvalho em sites importantes e, principalmente, pela torcida do Inter, onde tenho vários amigos que também cometeram este erro, totalmente perdoável, pois são apaixonados pelo time e se sentiram também agredidos.
Sem contar os torcedores gremistas, com pensamentos pré-históricos, onde o que importa é ofender o adversário, machucar, física ou moralmente o ‘inimigo’. E aí entra uma questão importante: a imprensa, nos últimos anos faz questão de transformar um clássico esportivo em guerra, combate, sempre usando termos bélicos, o que acabam motivando essa inversão de valores por parte da torcida. Sim, pois, a partir daí, o torcedor passa a ver o adversário de esportes como um inimigo a ser combatido, aniquilado.
Sinceramente, espero que as autoridades consigam tomar atitudes que impeçam que essa barbárie se repita, pois poderá ter conseqüências mais dramáticas do que estas. Também gostaria muito que as pessoas voltassem a ver o futebol como um momento de diversão, de alegria, alívio de estresse e emoções, e não mais como um local onde a raiva, o ódio e tantos sentimentos menos nobres são aplicados na prática.
Mas, talvez, eu esteja sonhando longe demais. Talvez quem ler este texto dê risada e pense: “Que bobalhão, foi muito legal ter destruído o Beira-Rio”, “engraçado foi ver os brigadianos apanhando”, “muito show a fumaça preta que saiu dos banheiros”. Bom, aí só me restará lamentar, sinceramente, pois os valores terão se invertido permanentemente.