Zero À Esquerda - Edição Nove
Nós seres humanos temos uma tendência evolutiva(?) a sermos enganados por qualquer pessoa que nos diga exatamente o que gostaríamos de ouvir, o que pode ser constatado facilmente no quadro Operação Bola de Cristal, do Fantástico. Lá, um mágico e um especialista em fenômenos paranormais auxiliam um ator(muito bom, por sinal) a agir como um “legítimo” charlatão, desses que adivinham quem nós somos e como devemos agir.
O mais incrível de tudo isso é que, com frases feitas e ambíguas, pra não dizer clichês e sem significado, ele vai conquistando a platéia que, aos poucos, passa a acreditar completamente em tudo o que ele diz ou faz.
Após algumas tentativas com acertos e erros, onde o que faz a diferença é o auxílio dos profissionais já citados, que dizem via fone como ele deve proceder quando comete um erro, transformando-o em um acerto, o ator tem a pessoa escolhida na mão. A partir daí, a pessoa, inconscientemente vai entregando informações para ele, que as usa habilmente em uma posterior “adivinhação”.
A atuação de Ângelo(nome do personagem) é tão convincente que, mesmo após a revelação de que era tudo uma farsa, algumas pessoas da platéia achavam que a verdade era que Ângelo realmente possuía poderes de adivinhação. Muitas não acreditaram que tudo era apenas um teste.
Mas porque será que tantas pessoas realmente pensam que ele sabia de suas vida particulares, porque elas acham que Ângelo conhecia seus segredos, virtudes e defeitos?
Acredito que a resposta não seja muito difícil de ser encontrada, muito menos que seja necessário poderes paranormais pra isso: essas pessoas sentiram-se importantes em algum momento, sentiram-se o centro das atenções de alguém que possuía poderes e, assim, também consideravam-se um pouco especiais. Em um mundo como o atual, onde as pessoas estão sempre preocupadas com o próprio umbigo, onde nós todos estamos tão carentes de um pouco de atenção ou, ainda, valorização, até um charlatão passa a ter seu valor pelo simples fato de que a pessoa escolhida por este ser “especial” sente-se valorizada, escutada, vista.
Seria tão mais fácil e seguro se olhássemos para o lado e procurássemos escutar, entender, valorizar o nosso interlocutor, ao invés de esperar que a outra pessoa faça isso por nós. Quem sabe assim essa operação bola de cristal, um dia, seja desmascarada logo de cara, pois saberemos em quem confiar. E não será quem nos disser exatamente o que queremos escutar, mas quem nos diga o que precisamos escutar para nos tornarmos melhores e não dependentes.